O maior evento técnico da Microsoft, realizado entre 22 e 24 de setembro, foi este ano totalmente digital e gratuito. Com uma segunda parte já anunciada para março de 2021, foram centenas de sessões disponíveis para assistir ao vivo ou em diferido durante 48 horas “non -stop” para que qualquer participante no planeta não ficasse de fora.
O evento, como sempre, foi inspirador, cheio de novidades e muito adaptado aos dias em que vivemos com a mensagem “Remote Everything” claramente assumida na estratégia de soluções da Microsoft. Podem consultar o registo de todas as novidades aqui:
Ao contrário do habitual, não vou resumir ou destacar as principais novidades deste ano, mas sim refletir sobre o impacto da transição deste mega evento presencial para uma versão exclusivamente digital.
Na teoria, a realização de um evento desta magnitude, totalmente online, são só vantagens. Não é necessário perder tempo em viagens, enfrentar o jet-lag, estar longe da família ou despender uma quantidade significativa de dinheiro, que sejamos francos, não está ao alcance de todos. O organizador poupa também imenso dinheiro em toda a logística inerente a suportar um evento que nos últimos anos tem contado com cerca de 30 000 participantes.
Quer isto dizer que esta é afinal a melhor solução para as conferencias desta envergadura? Espero que a Microsoft considere que não.
A disponibilização da conferencia em formato digital é importante, quer para dar suporte a quem participou no evento, quer para democratizar o acesso à informação, pois como já referi, não é simples, nem barato colocar colaboradores num evento nos Estados Unidos da América. Mas na minha opinião um formato não anula o outro e ambos devem coexistir como tem sido até aqui. É um facto que apesar da Microsoft nos últimos anos ter disponibilizado toda a conferencia em formato digital de forma gratuita, por mais curioso que seja os eventos presenciais continuaram a esgotar.
Mas porquê então manter uma conferência física se, tudo parece melhor e mais produtivo à distância? As razões serão diferentes para cada um, mas no meu caso que tenho tido a felicidade de participar em várias edições do Ignite, as razões são o entusiasmo, a energia e o foco.
O entusiasmo de uma nova grande viagem, de mais uma aventura certamente com muitas histórias para contar, o entusiasmo de ir para o centro da excelência das TI, de ter acesso aos mais variados especialistas numa conversa de café, que pode até (já aconteceu) desbloquear algum problema técnico que temos por resolver em casa. A excitação de sabermos que vamos estar cerca de uma semana a aprender com os melhores, a evoluir e ganhar inspiração para mais um ano de trabalho. No meu caso, o Ignite, por ser realizado pós-férias marca o início do meu ano laboral. A ideia do NIODO Desktop surgiu num evento desta natureza e todos os anos venho do Ignite com novas ideias quer de negócios, quer de aplicação do que aprendi em casos práticos internos ou em clientes. Nem se pode dizer que vá aprender algo a fundo e muitas vezes o evento é até frustrante pois com dezenas de sessões em simultâneo ficamos sempre com a sensação que estamos a perder algo (apesar de podemos recuperar mais tarde em casa via digital), mas a energia que se vive é inspiradora.
Estar num Keynote com milhares de pessoas numa gigantesca sala a ouvir de forma entusiasmante as últimas novidades da nossa indústria, todos em sintonia, é inexplicável e mantem vivo o amor naquilo que fazemos. É quase como que uma terapia revigorante que ano após ano faz-nos crer que faz sentido e que vale a pena. É impossível, pelo menos para mim, recriar este entusiasmo e energia remotamente a partir do escritório da minha casa.
Por fim, o foco. Para mim e sei que para grande parte dos participantes, o facto de estar em casa e não a milhares de quilómetros de distancia dentro de um centro de conferencias, tem um impacto no foco. Em casa, é difícil declinar reuniões urgentes, não responder aquela chamada ou e-mail importante. Até porque podemos sempre fazer pause e ver mais tarde, podemos deixar para depois e assim não comprometer o trabalho ou as tarefas domésticas, podemos até ir ao ginásio e buscar os filhos ao colégio. Podemos e fazemos tudo, mas o evento acaba por ficar para trás. Na maior parte das vezes acabamos por ler os destaques, ver uma sessão ou outra e perde-se o melhor retorno que estas conferencias podem trazer que é a inspiração e a sede de saber mais.
Assim arriscando-me a parecer um pouco saudosista, espero sinceramente que o futuro “novo normal” viabilize, de forma segura, este tipo de eventos e que, neste caso, a Microsoft não desista dos mesmos em favor de uma versão online que sendo competente e mais barata não “deslumbra”.