Tendências após um ano de trabalho remoto

Publicado a 3/31/2021 por Knowledge Inside em Opiniao
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Já muito escrevemos e muito se escreveu sobre a pandemia, sobre o impacto que está a ter em todos nós, desde a saúde à economia bem como à forma como nos relacionamos uns com os outros.

Fruto da natural aprendizagem muitas das dúvidas existentes no início da pandemia já se transformaram em certezas, mas a pergunta ainda sem resposta para muitos e mais comumente colocada é “Quando é que voltamos à vida normal?”. Pois bem, no meu entender a resposta a esta questão é “Nunca!”.

Não quero dizer com isto que vamos continuar a nossa vida confinados, sem irmos a locais de diversão ou até abraçar o amigo que já não vemos há muito tempo, mas não tenho grandes dúvidas que vamos aprender a viver com esta nova normalidade que se vai traduzir numa alteração nos nossos comportamentos.

Esta nova normalidade tem naturalmente impacto no nosso trabalho e na forma como interagimos com os colegas, e é surpreendente como nos habituámos a esta realidade num tão curto espaço de tempo. Se no início do ano de 2020 nos dissessem que iriamos passar a maior parte do próximo ano confinados e a trabalhar remotamente certamente não acreditaríamos que seria possível. Na Knowledge Inside o teletrabalho quase em exclusivo tem sido uma constante desde Março de 2020 quando todos os colaboradores foram para casa e continuaram a trabalhar a partir daí da mesma forma como que estariam no escritório.

Poderá pensar-se que esta mudança drástica foi apenas possível porque se trata de uma empresa tecnológica e que já aplicava este modelo de teletrabalho em algumas circunstâncias, contudo, mesmo em organizações mais tradicionais, assisti a esta mudança de métodos de trabalho com uma velocidade que achava não ser possível.

O feedback que tenho recolhido nos nossos clientes tem sido misto, a generalidade das pessoas está satisfeita com o modelo de teletrabalho uma vez que, na maior parte das funções exercidas, permite uma maior flexibilização do trabalho, desde aos horários ao próprio local onde estão a trabalhar, bem como uma melhor simbiose entre o trabalho e a vida pessoal, como aliás as pessoas com filhos em idade escolar podem facilmente testemunhar.

Há, no entanto, algumas preocupações que me têm transmitido e que passam essencialmente por uma dificuldade em acompanhar este exponencial crescimento da vida digital, em que são “bombardeados” por mails, reuniões de teams, chamadas ad-hoc de colegas, chats e sempre com uma grande pressão para responder em poucos minutos. Isto parece estar a causar alguma “exaustão digital”, uma vez que, ao contrário de um ambiente tradicional de escritório, agora tudo se passa dentro do monitor do computador. Falam também da dificuldade, que subscrevo, em cimentar a cultura empresarial num ambiente de trabalho completamente digital.

São essas aliás algumas das conclusões de um estudo,The Next Great Disruption Is Hybrid Work—Are We Ready? (microsoft.com), que a Microsoft apresentou em meados de Março, realizado a mais de 30 mil pessoas em 31 países, de onde destaco as seguintes notas:

  1. O trabalho flexível veio para ficar
  2. 73% dos trabalhadores querem a continuação de opções de trabalho remoto.
  3. A intensidade digital dos dias dos trabalhadores aumentou substancialmente, com o número médio de reuniões (mais que duplicou) e chats aumentando constantemente desde o ano passado.
  4. 54% dos trabalhadores sentem-se sobrecarregados
  5. 20% disse que o seu empregador não se preocupa com o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional
  6. Apesar da maior distância física, houve mais partilhas pessoais com os colegas, o que pode ajudar a promover um ambiente de trabalho mais saudável e mais humano.

Com cada vez mais população vacinada e com os casos de COVID-19 a reduzir dia após dias muitas das organizações já têm preparado o plano de regresso à nova normalidade, algumas até já anunciaram a mudança radical de métodos de trabalho passando a trabalhar exclusivamente remotamente, outras, porém ainda não sabem que caminho seguir, o do modelo de trabalho tradicional ou o novo remoto.

Apesar de reconhecer que o teletrabalho apresenta muitos pontos positivos já muito discutidos, acredito também no poder de reunir as pessoas no local de trabalho, de estar fisicamente perto delas, de saber se está tudo bem com a família, de falar do golo do Ronaldo na pausa para o café, de discutir um tema de forma calorosa e de fazer um brainstorming à volta de um projeto. Acredito, portanto, que a tendência de trabalho será um ambiente híbrido, isto é, uma parte do trabalho efetuado a partir de casa e outra parte no local de trabalho. O vice-presidente da Microsoft – Kurt DelBene – aponta na mesma direção e diz que finda a pandemia “a Microsoft irá considerar o trabalho de casa durante parte do tempo (menos de 50%) como padrão para a maioria das funções”.

Este modelo trará outros desafios porque terão as organizações que investir em soluções de modo a quebrar as barreiras entre o mundo físico e o digital, as empresas terão que providenciar a mesma experiência de trabalho em ambos os cenários e continuar a promover a comunicação entre todos, estejam num regime ou noutro.

Desta forma a produtividade manter-se-á elevada, mas mais importante, o bem-estar das pessoas será mantido uma vez que desta forma poderão equilibrar muito melhor a sua vida pessoal com a vida profissional, no fundo acredito que seremos todos mais felizes e é isso que importa. 😊

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