Microsoft Ignite 2025: A Obsessão pelos Agentes, a Validação Estratégica e os Desafios de São Francisco

Regressar de um evento da dimensão do Microsoft Ignite é, invariavelmente, um exercício de processamento de grandes volumes de informação. Como CTO da Knowledge Inside, a minha presença em São Francisco não serviu apenas para absorver novidades técnicas, mas para validar a nossa bússola estratégica e sentir o pulso à direção que a gigante tecnológica está a impor ao mercado. A edição de 2025 ficará na memória por vários motivos, uns inspiradores, outros logísticos, mas acima de tudo por uma mensagem clara e ensurdecedora: a Era dos Agentes chegou.

O Monopólio da Inteligência Artificial

Se existiam dúvidas sobre a aposta da Microsoft, o Ignite 2025 dissipou-as nos primeiros minutos. O evento foi, do início ao fim, totalmente centrado em Inteligência Artificial, mais propriamente na evolução para Agentes de IA e na interseção destes com a Cibersegurança (com forte destaque para o Microsoft Defender).

Por um lado, saio deste evento com um sentimento de satisfação profunda. Foi gratificante constatar que a estratégia que desenhámos na Knowledge Inside, e a nossa visão de futuro para a tecnologia na nuvem, está em total alinhamento com o que foi apresentado no Moscone Center. As nossas apostas recentes não foram tiros no escuro; foram antecipações corretas de uma tendência que agora se torna mainstream. Ver a Microsoft a “dobrar a aposta” nas mesmas áreas onde temos investido tempo e I&D dá-nos a segurança de que estamos a conduzir os nossos clientes pelo caminho certo.

Um Ecossistema Desequilibrado?

Contudo, nem tudo o que brilha é IA. A minha principal crítica ao conteúdo do evento prende-se com o desequilíbrio temático. Senti que o Ignite 2025 foi excessivamente comercial e monotemático. O mundo tecnológico é vasto e as necessidades das empresas não se resumem apenas a LLMs e Agentes Autónomos.

Senti falta de “palco” para os restantes produtos e soluções que formam a espinha dorsal de muitas organizações. Pouco ou nada se falou de todas as outras soluções críticas do ecossistema Microsoft que não tivessem a etiqueta “Copilot” ou “Agent” colada. O mundo não é só IA, e o mundo da Microsoft, historicamente, também não o deveria ser. Esta abordagem corre o risco de alienar a complexidade real da gestão de TI, onde a IA é uma peça fundamental, mas não a única.

A Fricção Logística e a “Produtividade”

Para um evento que promove a produtividade, a organização logística em São Francisco deixou a desejar. O modelo de dispersar as sessões por três edifícios distintos (o complexo Moscone e o Hotel Marriot), somado à necessidade de passar por screening de segurança sempre que se entrava em cada um deles, criou uma fricção desnecessária.

A distância entre os edifícios e as filas resultaram em muito tempo perdido em deslocações — tempo esse que poderia ter sido investido em sessões ou networking. Num evento desta magnitude, a fluidez é essencial, e este ano a experiência física foi um obstáculo à absorção de conhecimento.

O HUB: O Coração do Evento

Apesar das críticas, houve pontos inegavelmente positivos. O HUB deste ano foi, na minha opinião, um dos maiores e melhores de sempre. É, para mim, o verdadeiro valor deste evento: um momento de reflexão e realinhamento da estratégia da Knowledge Inside, mas também uma oportunidade única de contacto humano.

Poder ouvir e falar diretamente com as pessoas envolvidas na criação dos produtos que usamos todos os dias com os nossos clientes é impagável. É nestas conversas diretas que muitas vezes encontramos as soluções para problemas reais ou validamos o roadmap para os nossos projetos.

Conclusão: O Que Esperar do Futuro

O Microsoft Ignite 2025 foi um marco na afirmação dos Agentes de IA como o novo paradigma. Volto com a certeza de que a Knowledge Inside está na vanguarda desta transformação.

No entanto, fica o desejo para a próxima edição: que venha um evento melhor organizado logisticamente, menos focado no “hard sell” comercial e, acima de tudo, mais “democrático” na atenção dada ao vasto portefólio da Microsoft. A inovação é crucial, mas a sustentação de todo o ecossistema tecnológico exige um olhar mais amplo.

Até para o ano.