Recentemente, fui vítima de uma tentativa de extorsão via telefone que me deixou a pensar sobre a sofisticação crescente dos esquemas online. A história começa com uma ligação inesperada. Do outro lado da linha, uma voz em inglês perfeito, acompanhada de um ruído típico de call center, informou-me que eu tinha uma conta adormecida na Coinbase com um saldo de 0.99 BTC, desde 2017. Para os menos familiarizados com o mundo das criptomoedas, 0.99 Bitcoin é uma quantia significativa, especialmente hoje em dia, valendo cerca de 60 mil dólares.
A coincidência era perturbadora. De facto, por volta dessa altura, eu realmente fiz movimentações na Coinbase. A dúvida instalou-se. Será que me tinha esquecido de algum valor? A voz do outro lado parecia saber exatamente como me prender: revelou o meu nome, a minha morada e até o meu ano de nascimento. O esquema estava bem montado, e a pressão subtil para agir rapidamente apenas aumentava o meu desconforto.
Quando o interlocutor mencionou que a minha conta estava suspensa e que, para a reativar, eu precisaria de confirmar alguns dados através de um e-mail que receberia em breve, os alarmes começaram a soar. O e-mail chegou, de uma plataforma chamada Dropstab, uma ferramenta real e com boa reputação para gerir ativos cripto. No entanto, o instinto de cautela falou mais alto. Desliguei a chamada e decidi investigar por mim mesmo.
Assim que entrei na plataforma, vi o saldo da minha suposta conta com os tais 0.99 BTC. Seria uma miragem?
Não demorou muito para perceber que algo estava errado. A plataforma, que permite aos utilizadores registarem e monitorizarem manualmente os seus ativos, foi usada como uma armadilha. Eles criaram a conta por mim, definiram uma senha, e assim que ativei o registo, eles rapidamente adicionaram um registo fictício de uma compra de Bitcoin, dando a ilusão de que eu realmente tinha aquele saldo. A minha curiosidade transformou-se em apreensão, e a primeira coisa que fiz foi alterar a senha, cortando assim o esquema pela raiz.
Ao pesquisar mais sobre o golpe, encontrei relatos semelhantes no Reddit. A próxima etapa do plano seria fazer-me acreditar que poderia levantar o dinheiro, mas, para isso, eu teria de pagar uma comissão de 1% ou talvez fornecer os dados do meu cartão de crédito.
Esta experiência serviu como um lembrete duro: nunca devemos fornecer dados pessoais ou financeiros, mesmo quando a situação parece legitimamente alinhada com a nossa realidade. A verdade é que não tinha Bitcoin algum. Verifiquei na Coinbase e confirmei que, em 2018, tinha vendido todos os meus ativos, incapaz de lidar com a volatilidade da criptomoeda. Por alguns segundos, tive a esperança de uma surpresa de verão, mas a única lição foi a de reforçar a prudência.
Em tempos de crescente digitalização, onde os nossos dados podem ser facilmente comprometidos, a desconfiança torna-se uma ferramenta de sobrevivência. E a lição que fica é clara: antes de agir, respire fundo, analise todas as variáveis, e se tiver dúvidas, desligue a chamada e consulte fontes oficiais. Afinal, as surpresas de verão nem sempre vêm embrulhadas em boas notícias.