VMware e Citrix: viraram costas às PME?
Nos primórdios da virtualização e dos ambientes de trabalho remotos, empresas como a VMware e a Citrix foram verdadeiros pilares para as pequenas e médias empresas (PME). Estas tecnologias permitiram às PME aceder a soluções de TI avançadas – virtualização de servidores no caso da VMware e ambientes de trabalho remotos virtualizados no caso da Citrix – sem os custos astronómicos que, até então, apenas as grandes empresas podiam suportar. Durante anos, VMware e Citrix cresceram de mãos dadas com este segmento, ajudando a transformar radicalmente a forma como as PME operavam e competiam. No entanto, a realidade atual no terreno é bem diferente: ambas as empresas parecem ter mudado de postura e abandonado o segmento PME que tanto contribuiu para o seu sucesso inicial. Neste artigo de opinião, falo de forma direta sobre esta mudança e sobre como nós, na Knowledge Inside, nos adaptámos a ela.
Do auge ao abandono: o caso VMware
A Knowledge Inside sempre se pautou por escolhas tecnológicas realistas e orientadas ao cliente. Um marco dessa filosofia foi a decisão de deixar de investir em VMware a partir do lançamento do Hyper-V no Windows Server 2008 R2. Nessa época, a Microsoft deu um salto qualitativo no seu hipervisor: o Hyper-V passou a suportar funcionalidades críticas como alta disponibilidade, live migration e melhor integração com ferramentas de gestão (SCVMM), tornando-se uma alternativa robusta e mais económica face ao VMware. A partir de 2009, a KI optou por standardizar em Hyper-V tanto nas implementações em clientes como na sua própria plataforma de cloud privada (o NIODO), evitando os elevados custos de licenciamento VMware. Esta decisão foi tomada com base numa constatação simples: para as necessidades das PME, o Hyper-V oferecia desempenho e fiabilidade equivalentes, a um custo substancialmente inferior. Assim, a KI alinhou-se com a realidade do mercado, privilegiando soluções Microsoft de virtualização que permitiam poupar recursos dos clientes sem sacrificar qualidade.
Citrix e as PME: uma relação sob tensão
Se a saída da VMware do universo PME foi relativamente rápida no nosso caso, com a Citrix a história é diferente. A Citrix, durante muitos anos, permaneceu como um aliado valioso para as PME no que toca a virtualização de desktops e aplicações. As suas soluções permitiram que empresas com recursos limitados disponibilizassem aplicações centralizadas e ambientes de trabalho remotos com desempenho e segurança de topo. Na Knowledge Inside, mantivemos (e continuamos a manter) um acompanhamento técnico muito forte das tecnologias Citrix – somos parceiro e Service Provider Citrix, e arrisco dizer que somos a única empresa em Portugal com uma oferta realmente sólida de desktops alojados (Hosted Desktops) baseada em Citrix. Ou seja, não desistimos da Citrix quando se trata de servir as PME: construímos uma solução de Hosted Desktop (o nosso NIODO Desktop e NIODO App) que leva a tecnologia Citrix até empresas de pequena e média dimensão, algo que praticamente mais ninguém fez no mercado nacional. Este compromisso técnico de mais de uma década deu-nos uma experiência única e a convicção de que, bem implementada, a Citrix traz enorme valor às PME que precisam de trabalho remoto e acesso a aplicações centralizado.
Contudo, é impossível ignorar que a Citrix de hoje não é a mesma de há 10 anos no que toca à sua postura de mercado. Nos últimos tempos, as políticas comerciais e de licenciamento da Citrix tornaram-se um desafio sério para quem trabalha o segmento PME. Por exemplo, recentemente a Citrix alterou o modelo de subscrição de licenças de modo a forçar compromissos anuais: optar por licenças mensais tornou-se proibitivo, chegando a custar quase o dobro do preço face à licença anual equivalente. Na prática, isto significa que um cliente PME que queira flexibilidade (por não saber se vai precisar de X licenças todos os meses) é fortemente penalizado em custo se não puder assumir um contrato anual. Sabemos bem que muitas PME vivem com orçamentos mensais apertados e necessidades flutuantes – pedir-lhes para pagar um ano adiantado de licenciamento é desajustado e demonstra falta de compreensão deste mercado. Além disso, a Citrix passou a agrupar funcionalidades em pacotes “premium” pensados para grandes organizações, incluindo nestes bundles uma série de extras que as PME nem pediram nem precisam. O resultado? Empresas pequenas com, digamos, 50 utilizadores acabam a pagar por ferramentas concebidas para empresas de 5.000 utilizadores. É um desajuste gritante entre o que a Citrix oferece e o que as PME realmente necessitam no dia a dia.
É frustrante dizer isto, sobretudo depois de anos a fio de dedicação técnica, mas a realidade impõe-se à lealdade. E a realidade é que a Citrix, tal como a VMware, parece estar mais interessada em perseguir os grandes contratos empresariais, deixando as PME e os seus parceiros a falar sozinhos.
A evolução da Microsoft dificulta a vida à Citrix
Enquanto a Citrix complexifica e encarece o seu modelo, a Microsoft avançou rapidamente com ofertas cloud de desktops virtuais que tornam a vida da Citrix (e dos seus parceiros) mais complicada. O Azure Virtual Desktop (AVD) da Microsoft – anteriormente Windows Virtual Desktop – foi concebido de raiz como solução de baixo custo para pequenas empresas, com um modelo de preços pay-as-you-go (pagamento por consumo). Isso significa que uma PME pode implementar escritórios remotos ou workspaces na cloud Azure sem investimento inicial pesado, pagando apenas pelos recursos usados e aproveitando licenças do Microsoft 365 que já possua. De forma similar, o Windows 365 Cloud PC oferece desktops na nuvem por utilizador, geridos integralmente pela Microsoft, simplificando ao máximo a adoção de postos de trabalho remotos.
Este avanço da Microsoft coloca um dilema: por que optar pela camada extra da Citrix, se a plataforma Microsoft já fornece a funcionalidade necessária de forma integrada e geralmente mais acessível? Para muitas organizações, especialmente de menor dimensão, a resposta tende a pender para o ecossistema Microsoft puro, que apresenta menos atritos em termos de custos e gestão. Note-se que a Citrix historicamente beneficiou de uma parceria estreita com a Microsoft – integrou-se com o Windows Server (RDS/Terminal Services) e agregou valor onde a Microsoft era limitada. Porém, hoje a Microsoft cobre grande parte dessas necessidades de forma nativa. Ao migrar para o AVD, as empresas têm segurança, performance e atualização contínua asseguradas pela própria Microsoft, dentro de um pacote previsível e escalável conforme o uso. Em suma, o terreno onde a Citrix reinava ficou mais estreito: as PME dispõem agora de alternativas diretas, mais simples e economicamente vantajosas, dificultando a justificação do overhead Citrix — especialmente num contexto em que a própria Citrix não tem facilitado a permanência dos clientes de menor porte.
Conclusão
VMware e Citrix foram, sem dúvida, aliadas preciosas no crescimento das PME, trazendo inovação e eficiência a um segmento que delas muito beneficiou. Contudo, a evolução do mercado e das estratégias destes fabricantes nem sempre acompanhou as necessidades reais das pequenas e médias empresas. A Knowledge Inside orgulha-se de ter crescido com estas tecnologias mas, acima de tudo, de ter tomado decisões alinhadas com os clientes ao longo do percurso. Descontinuámos o investimento em VMware quando vislumbrámos uma alternativa mais adequada (Hyper-V) e continuámos a apostar na Citrix enquanto esta representou valor claro para os nossos clientes. Agora, perante um cenário em que a Citrix encarece e complica o acesso das PME às suas soluções – ao mesmo tempo que a Microsoft democratiza o desktop na cloud –, reiteramos o nosso compromisso: mantemo-nos fiéis aos clientes e à realidade do mercado, não aos fabricantes. Em prática, isto significa que continuaremos a recomendar e a implementar as soluções que melhor servem os interesses dos nossos clientes, seja através do nosso NIODO com tecnologia Citrix otimizada, seja explorando as inovações da Microsoft ou de outros players. A lealdade da KI está com quem utiliza a tecnologia, não com quem a vende. Essa postura direta, honesta e transparente é, e continuará a ser, a nossa marca distintiva no apoio tecnológico às PME.